Devidamente
tratada, a diabetes não impede o doente de ter uma vida perfeitamente
normal e autónoma. Contudo, é fundamental que o diabético se ajude a si
mesmo, autocontrolando a sua doença. Aliás, se o doente for determinado
neste papel de autovigilância, a sua vida ficará muito facilitada.
O que é a diabetes?
A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos
níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo
em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. À quantidade
de glicose no sangue chama-se glicemia e quando esta aumenta diz-se que
o doente está com hiperglicemia.
Quem está em risco de ser diabético?
A diabetes é uma doença em crescimento, que atinge cada vez mais
pessoas em todo o mundo e em idades mais jovens. No entanto, há grupos
de risco com fortes probabilidades de se tornarem diabéticos:
- Pessoas com familiares directos com diabetes;
- Homens e mulheres obesos;
- Homens e mulheres com tensão arterial alta ou níveis elevados de colesterol no sangue;
- Mulheres que contraíram a diabetes gestacional na gravidez;
- Crianças com peso igual ou superior a quatro quilogramas à nascença;
- Doentes com problemas no pâncreas ou com doenças endócrinas.
Quais são os sintomas típicos da diabetes?
Nos adultos - A diabetes é, geralmente, do tipo 2 e manifesta-se através dos seguintes sintomas:
- Urinar em grande quantidade e muitas mais vezes, especialmente durante a noite (poliúria);
- Sede constante e intensa (polidipsia);
- Fome constante e difícil de saciar (polifagia);
- Fadiga;
- Comichão (prurido) no corpo, designadamente nos órgãos genitais;
- Visão turva.
Nas crianças e jovens - A diabetes é quase sempre do tipo 1 e
aparece de maneira súbita, sendo os sintomas muito nítidos. Entre eles
encontram-se:
- Urinar muito, podendo voltar a urinar na cama;
- Ter muita sede;
- Emagrecer rapidamente;
- Grande fadiga, associada a dores musculares intensas;
- Comer muito sem nada aproveitar;
- Dores de cabeça, náuseas e vómitos.
É importante ter presente que os sintomas da diabetes nas crianças e
nos jovens são muito nítidos. Nos adultos, a diabetes não se manifesta
tão claramente, sobretudo no início, motivo pelo qual pode passar
despercebida durante alguns anos.
Os sintomas surgem com maior intensidade quando a glicemia está
muito elevada. E, nestes casos, podem já existir complicações (na
visão, por exemplo) quando se detecta a doença.
Como se diagnostica a diabetes?
Se sentir alguns ou vários dos sintomas deve consultar o médico do
centro de saúde da sua área de residência, o qual lhe pedirá para
realizar análises ao sangue e à urina.
Pode ser diabético...
- Se tiver uma glicemia ocasional de 200 miligramas por decilitro ou superior com sintomas;
- Se tiver uma glicemia em jejum (oito horas) de 126 miligramas
por decilitro ou superior em duas ocasiões separadas de curto espaço de
tempo.
Que tipos de diabetes existem?
- Diabetes Tipo 2 (Diabetes Não Insulino-Dependente) - É a mais frequente (90 por cento dos casos).
O
pâncreas produz insulina, mas as células do organismo oferecem
resistência à acção da insulina. O pâncreas vê-se, assim, obrigado a
trabalhar cada vez mais, até que a insulina produzida se torna
insuficiente e o organismo tem cada vez mais dificuldade em absorver o
açúcar proveniente dos alimentos.
Este tipo de diabetes aparece
normalmente na idade adulta e o seu tratamento, na maioria dos casos,
consiste na adopção duma dieta alimentar, por forma a normalizar os
níveis de açúcar no sangue. Recomenda-se também a actividade física
regular.
Caso não consiga controlar a diabetes através de dieta e
actividade física regular, o doente deve recorrer a medicação
específica e, em certos casos, ao uso da insulina. Neste caso deve
consultar sempre o seu médico.
- Diabetes Tipo 1 (Diabetes Insulino-Dependente) - É mais rara.
O
pâncreas produz insulina em quantidade insuficiente ou em qualidade
deficiente ou ambas as situações. Como resultado, as células do
organismo não conseguem absorver, do sangue, o açúcar necessário, ainda
que o seu nível se mantenha elevado e seja expelido para a urina.
Contrariamente
à diabetes tipo 2, a diabetes tipo 1 aparece com maior frequência nas
crianças e nos jovens, podendo também aparecer em adultos e até em
idosos.
Não está directamente relacionada, como no caso da
diabetes tipo 2, com hábitos de vida ou de alimentação errados, mas sim
com a manifesta falta de insulina. Os doentes necessitam de uma
terapêutica com insulina para toda a vida, porque o pâncreas deixa de a
produzir, devendo ser acompanhados em permanência pelo médico e outros
profissionais de saúde.
- Diabetes Gestacional - Surge durante a gravidez e
desaparece, habitualmente, quando concluído o período de gestação. No
entanto, é fundamental que as grávidas diabéticas tomem medidas de
precaução para evitar que a diabetes do tipo 2 se instale mais tarde no
seu organismo.
A diabetes gestacional requer muita atenção, sendo
fundamental que, depois de detectada a hiperglicemia, seja corrigida
com a adopção duma dieta apropriada. Quando esta não é suficiente, há
que recorrer, com a ajuda do médico, ao uso da insulina, para que a
gravidez decorra sem problemas para a mãe e para o bebé.
Uma em cada 20 grávidas pode sofrer desta forma de diabetes.
Outras complicações associadas à diabetes
- Retinopatia - lesão da retina;
- Nefropatia - lesão renal;
- Neuropatia - lesão nos nervos do organismo;
- Macroangiopatia - doença coronária, cerebral e dos membros inferiores;
- Hipertensão arterial;
- Hipoglicemia - baixa do açúcar no sangue;
- Hiperglicemia - nível elevado de açúcar no sangue;
- Lípidos no sangue - gorduras no sangue;
- Pé diabético - arteriopatia, neuropatia;
- Doenças cardiovasculares - angina de peito, ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais;
- Obstrução arterial periférica - perturbação da circulação, por exemplo nas pernas e nos pés;
- Disfunção e impotência sexual - a primeira manifesta-se de diferentes formas em ambos os sexos;
- Infecções diversas e persistentes - boca e gengivas, infecções urinárias, infecções das cicatrizes depois das cirurgias.
Como se trata a diabetes?
- Diabetes tipo 1 Os doentes podem ter uma vida saudável, plena e
sem grandes limitações, bastando que façam o tratamento prescrito pelo
médico correctamente.
O objectivo do tratamento é manter o açúcar
(glicose) no sangue o mais próximo possível dos valores considerados
normais (bom controlo da diabetes) para que se sintam bem e sem nenhum
sintoma da doença. Serve ainda para prevenir o desenvolvimento das
manifestações tardias da doença e ainda para diminuir o risco das
descompensações agudas, nomeadamente da hiperglicemia e da cetoacidose
(acidez do sangue).
Este tratamento, que deve ser acompanhado
obrigatoriamente pelo médico de família, engloba três vertentes
fundamentais: adopção de uma dieta alimentar adequada, prática regular
de exercício físico e o uso da insulina.
- Diabetes tipo 2 - O tratamento é semelhante mas, devido à
menor perigosidade da doença, a maioria das vezes basta que a
alimentação seja adequada e que o exercício físico passe a fazer parte
da rotina diária para que, com a ajuda de outros medicamentos
específicos (que não a insulina), a diabetes consiga ser perfeitamente
controlada pelo doente e pelo médico.
Os medicamentos usados no
tratamento deste tipo de diabetes são geralmente fármacos (comprimidos)
que actuam no pâncreas, estimulando a produção de insulina.
Seguindo
uma alimentação correcta e adequada, praticando exercício físico diário
e respeitando a toma dos comprimidos indicada pelo médico, um doente
com diabetes tipo 2 garante a diminuição do risco de tromboses e
ataques cardíacos; a prevenção de doenças nos olhos e nos rins e da má
circulação nas pernas e nos pés, factor que diminui significativamente
o risco de amputações futuras.
O que é a insulina?
A insulina é uma hormonal hipoglicemiante segregada pelas células
beta dos ilhéus de Langerhans do pâncreas, que é usada no tratamento
dos doentes diabéticos. Pode ser obtida a partir do pâncreas do porco
ou feita quimicamente e de forma idêntica à insulina humana através do
uso de tecnologia do DNA recombinante ou da modificação química da
insulina do porco.
Em Portugal só é comercializada insulina igual à insulina humana,
produzida com recurso a técnicas de engenharia genética, sendo as
reacções alérgicas muito raras em virtude da sua grande pureza. No
mercado estão disponíveis diversas concentrações de insulina. No nosso
país, só se encontra disponível a concentração U-100 (1ml=100 unidades).
Por que é que a insulina é necessária para o tratamento da diabetes tipo 1?
Porque, nos doentes com a diabetes tipo 1, as células do pâncreas
que produzem insulina foram destruídas, motivo pelo qual este produz
muito pouca ou nenhuma insulina. Como sem insulina não se pode viver, a
administração de insulina produzida laboratorialmente é um tratamento
imprescindível de substituição.
Como se usa a insulina?
O tratamento com insulina é feito através de injecção na gordura por
baixo da pele (subcutânea). Até à data o desenvolvimento científico
ainda não conseguiu produzir nenhuma forma de insulina que possa ser
tomada por via oral, uma vez que o estômago a destrói automaticamente.
Por ser injectável, é necessário que o doente tenha atenção ao modo como a manuseia. Deve ter os seguintes cuidados:
- Colocar a cápsula de protecção sem tocar na agulha após a utilização da seringa/caneta;
- Guardar a seringa/caneta à temperatura ambiente;
- Não utilizar a seringa ou a agulha da caneta se estas estiverem rombas;
- Não limpar a agulha com álcool;
- Manter a cápsula quando inutilizar a seringa/caneta e ter muito cuidado na sua eliminação.
Onde se injecta a insulina?
A insulina pode ser injectada na região abdominal, nas coxas, nos
braços e nas nádegas. A parede abdominal é o local de eleição para uma
mais breve absorção da insulina de acção rápida. Deve ser usada para as
injecções realizadas durante o dia. A coxa utiliza-se preferencialmente
para as injecções de insulina de acção intermédia, sendo a região das
nádegas uma boa alternativa.
Deve proceder-se à rotação dos locais onde se administra a injecção,
de forma a evitar a formação de nódulos, porque estes podem interferir
na absorção da insulina.
Como conservar a insulina?
Os frascos de insulina, as cargas instaladas nas canetas e as
seringas pré-cheias descartáveis em uso devem ser conservadas à
temperatura ambiente, mas afastadas da luz solar directa e de locais
como a televisão e o porta-luvas do carro.
Que problemas podem surgir no decurso do tratamento de um doente diabético?
- Hipoglicemia: baixo valor de açúcar no sangue;
- Hiperglicemia: elevado valor de açúcar no sangue, que significa que a diabetes não está bem controlada;
- Cetoacidose: situação provocada pelo excesso de corpos
cetónicos no organismo. Os corpos cetónicos são substâncias que
acidificam o sangue e que podem conduzir ao coma cetoacidótico, pondo a
vida do doente em risco.
O que significa ter a diabetes controlada?
Significa que os níveis de açúcar no sangue se encontram dentro dos
parâmetros definidos pelos especialistas. É o médico que, de acordo com
factores como a idade, tipo de vida, actividade e existência de outras
doenças, define quais os valores de glicemia que o doente deve ter em
jejum e depois das refeições.
Convém lembrar-se de que os valores do açúcar no sangue variam ao
longo do dia, motivo pelo qual se fala em limites mínimos e limites
máximos.
Como se sabe se a diabetes está controlada?
Diariamente, é o doente que se analisa e vigia a si próprio, quer
através do seguimento da alimentação correcta e da prática de
exercício, quer da realização de testes ao sangue e à urina em sua
casa.
São justamente os testes realizados diariamente pelo doente que
permitem saber se o açúcar no sangue está elevado, baixo ou normal e
que, posteriormente, lhe permitem o ajustamento de todo o tratamento.
Consequentemente, a melhor forma de saber se a diabetes se encontra
ou não controlada é realizando testes de glicemia capilar (picada no
dedo) diariamente e várias vezes ao dia.
Se os valores estiverem dentro dos limites indicados pelo médico, a
diabetes está controlada. Se não, o doente deve consultar o médico
assistente.
Como prevenir a diabetes?
- Controlo rigoroso da glicemia, da tensão arterial e dos lípidos;
- Vigilância dos órgãos mais sensíveis, como a retina, rim, coração, nervos periféricos, entre outros;
- Bons hábitos alimentares;
- Prática de exercício físico;
- Não fumar;
- Cuidar da higiene e vigilância dos pés.
Que direitos têm os doentes diabéticos?
- Um plano de tratamento e objectivos de autocuidado
- Aconselhamento personalizado sobre a alimentação adequada;
- Aconselhamento sobre a actividade física adequada;
- Indicação sobre a dosagem e o horário da medicação e ainda sobre como adequar as doses com base na autovigilância;
- Indicação sobre os objectivos para o seu peso, glicemia, lípidos no sangue e tensão arterial;
- Análises laboratoriais regulares para controlo metabólico e do seu estado físico
- Revisão, pela equipa de saúde, dos resultados da
autovigilância e do tratamento corrente, em cada contacto com
profissionais da equipa;
- Análise, revisão e alteração, sempre que necessário, dos objectivos de autovigilância;
- Ajuda e esclarecimento;
- Educação terapêutica contínua;
- Verificação, pela equipa de saúde, do seu controlo;
- Verificação, se necessário, do peso, tensão arterial e dos lípidos sanguíneos;
- Avaliação anual dos olhos e da visão, dos pés, da função
renal, dos factores de risco para doenças cardíacas, das técnicas de
autovigilância e de injecção e dos hábitos alimentares;
- Tratamento de problemas especiais e emergências
- Conselhos e cuidados às mulheres que desejem engravidar;
- Acompanhamento especializado na gravidez e no parto;
- Conselhos e cuidados a crianças, adolescentes e às suas famílias;
- Acessibilidade adequada a cuidados especializados, em caso de
problemas nos olhos, nos rins, nos pés, nos vasos sanguíneos ou no
coração;
- Acompanhamento adequado à pessoa idosa;
- Educação terapêutica para o doente e para a sua família
- O porquê da necessidade de controlo dos níveis de glicemia;
- Como controlar os níveis de glicemia através de uma
alimentação adequada, actividade física adaptada e tratamento com
medicação oral e/ou insulina;
- Como avaliar o seu controlo através de testes de sangue e/ou
urina (autovigilância) e actuar face aos resultados (autocontrolo);
- Quais os sintomas de aumento dos níveis de glicose e acetona, como prevenir e tratar;
- Quais os sintomas de descida do nível de glicose, como prevenir e tratar;
- O que fazer quando está doente;
- Prevenção e tratamento das possíveis complicações crónicas,
incluindo lesões nos olhos, nos rins, nos pés e o endurecimento das
artérias;
- Como lidar com o exercício físico, com as viagens e com outras situações sociais ou de lazer;
- Como actuar perante eventuais problemas de emprego, serviço militar, seguros, licença de condução automóvel, entre outros;
- Informação sobre o suporte social e económico existente, para
que o diabético tenha os direitos sociais (emprego, reforma e outros)
que as suas capacidades e habilitações possibilitem, sem qualquer tipo
de restrição ou discriminação.
Quais são os deveres dos diabéticos?
Para que a vida se prolongue e a diabetes não seja um impedimento ao usufruto de uma vida normal, o diabético deve:
- Assumir comportamentos que o conduzam permanentemente à obtenção de ganhos de saúde e que contribuam para o seu autocontrolo
- Predispor-se a aprender continuamente a controlar a sua diabetes;
- Tentar ser autónomo, praticando o seu próprio autocontrolo;
- Examinar regularmente os pés;
- Tentar seguir um estilo de vida saudável;
- Controlar o peso;
- Praticar actividade física regular;
- Evitar o tabaco;
- Esclarecer-se sobre quando e como contactar a equipa de saúde em situação de urgência ou de emergência;
- Contactar a equipa de saúde sempre que sinta necessidade e até que fique esclarecido sobre as questões que o preocupam;
- Entrar em contacto e conversar com outras pessoas que tenham a
diabetes e com associações locais ou nacionais de doentes diabéticos;
- Assegurar que a família, amigos e colegas de trabalho se encontram esclarecidos sobre as necessidades da diabetes;
- Controlar diariamente a sua diabetes, desempenhando um papel activo no seu tratamento
- Fazer a sua autovigilância e adaptando o tratamento aos resultados autocontrolo;
- Tomar correctamente a medicação;
- Examinar e cuidar dos pés;
- Contactar a equipa de saúde se verificar que está mal
controlado ou se apresentar hipoglicemias graves, ou ainda se surgirem
sintomas de infecção;
- Evitar desperdícios dos recursos comuns existentes, de forma
a contribuir para a manutenção e, se possível, aumento dos seus
direitos
- Cumprir o plano de vigilância e terapêutica;
- Usar correctamente os materiais de controlo e tratamento;
- Usar adequadamente os serviços de saúde;
- Utilizar correctamente o Guia do Diabético disponibilizado
pelo seu médico assistente e ajudar os outros diabéticos a fazê-lo
também.
Em suma, olhe por si próprio, ajude os profissionais a cuidar bem da
sua saúde, seguindo conselhos tão simples e práticos como os seguintes:
- Pratique exercício com regularidade;
- Não fume;
- Vigie bem a sua diabetes;
- Não engorde;
- Controle a tensão arterial;
- Mantenha os níveis de colesterol e triglicéridos controlados e dentro dos parâmetros aconselhados pelos médicos.
Onde procurar ajuda?
No centro de saúde da sua área de residência, onde deverá contactar o seu médico de família.
FONTE: portaldasaude.pt